Thiago Elniño: Em tempos difíceis, rapper lança clipe de “Condado dos Surdos” com Raony e Keops da Banda Medulla

Desde o lançamento de seu elogiado primeiro disco, A Rotina do Pombo, no início de 2017, o rapper Thiago Elniño já vinha se destacando em trabalhos anteriores, como os EP Filhos de Um Deus Que Dança e a mixtape Fundamento, nos quais o discurso forte e a poesia direta iam de encontro à musicalidade sempre muito bem trabalhada, abordando temas como as lutas do povo negro e a desigualdade, envoltos à sonoridade que traz um rap com elementos orgânicos e acenos ao afrobeat, samba e musica jamaicana. Agora, um ano depois do lançamento, Thiago disponibiliza o ultimo videoclipe do disco, registra da faixa Condado dos Surdos, acompanhado de Raony e Keops, da banda Medulla.

Com clipe produzido pela Monomito Filmes, os sentimentos expostos na letra de Condado dos Surdos ganham profundidade. O dia e a noite, a dualidade entre as ruas cheias e vazias destacam os personagens, artistas que tentam sobreviver nelas, entre o silêncio e o caos, trazendo o sentimento de que nem todo mundo que fala, recebe escuta, nem tudo que se escuta é necessário. Em tempos de volume exagerado de informações, fake news e polarizações de opiniões, quando muitas vezes pessoas com a mesma causa acabam entrando em conflito, a música produzida por Scooby, Guga, Tolen e Martché traz um recado importante e o clipe, que conta com a forte presença de Raony e Keops, da banda Medulla, um dos destaques do atual rock nacional, da poetiza Luz Ribeiro e do artista de rua Limão, destaca ainda mais isso.

THIAGO ELNIÑO – CONDADO DOS SURDOS

 

O RAP + entrou em contato com Thiago Elniño onde ele contou um pouco mais sobre seu single e também sua carreira em mais uma grande entrevista.

Andressa: Quem é Thiago Elniño?

Alguém que tem fé que cada vez quem um racista morre um panda nasce, e precisamos urgentemente salvar os pandas da extinção! Rs! Então, eu me defino com um educador popular que tem a arte com difusora de ideias e a produção como captadora de recursos, cresci tendo acesso a muita coisa que meus irmãos e irmãs não tiveram e quero sugerir sem passar pelo discurso tolo da meritocracia, que eles pode ser oque quiserem! Somos Reis e Rainhas!

Andressa: Por que “Elniño”?

Vem da época que eu batalhava e precisava de um vulgo, eu tenho o lance de ser um cara calmo, mas bastante agressivo nas músicas, quem me conhece pessoalmente chega a estranhar isso, eu mudo de clima rápido, que nem o Elniño, fenômeno climático.

Andressa: “Pedagoginga” é um dos seus clipes mais visualizados, além de ser quase um hino para a militância negra pelo Brasil. Como você encara o fato de ser visto, hoje, como uma representação preta?

Eu Não sou isso isso tudo não, de vez enquanto eu acerto umas músicas legais mas esse volume de representatividade ainda é pequeno tanto pelo alcance do trabalho, quando pelo fato que eu sou muito falho e preciso me corrigir em vários pontos para chegar a tal! Porem desde já sinto muita responsabilidade absurda, com o mínimo de exposição já se leva porrada dos dois lados, tanto do inimigo, quanto dos irmãos que te cobram muito, a saúde mental sofre, mas acho que a partir do momento que se escolhe ser um MC alinhado com a cultura Hip Hop você sabe disso e tem que encarar como algo que faz parte. Se não aguenta por que veio não é mesmo?

Andressa: Como surgiu a parceria com o Sant?

Santim é um irmão de longa data, o Marechal juntou a gente a uns anos e desde então a gente tem uma relação muito bonita, familiar, as pessoas me cobravam um som com ele, mas nunca chamo ninguém para uma música antes da própria música pedir, mesmo que eu a admira ou que ela seja muito próxima, nesse caso, Pedagoginga pediu o Sant!

Andressa: Como surgiu a ideia de “A Rotina do Pombo?”

O disco surgiu da observação aos Pombos, eu trabalhava em um lugar que tinham pombos vivendo no mato, eram aves lindas, um dia fiquei observando que os Pombos na cidade são tudo sujo, meio doentes, comendo migalha, aí pensei, puts, é tipo os preto de perifa, a gente no nosso habitat é lindão, mas aí vem pra cidade trampar pros boy fica tudo sujo, mal tratado, feio e recebendo migalha, no caso o salário mínimo!

Andressa: A presença da religião de matriz africana em seus clipes e músicas é intensa. Para você, qual a importância do público entender e ouvir sobre religiões de matriz africana? Você acha que há uma responsabilidade no mc de desconstruir conceitos e quebrar o racismo religioso?

Por mais que pessoas de outras etnias curtam o som, e eu quero isso, o meu trabalho tem endereço certo que é o povo preto, e eu sugiro com meu som que meus irmãos e irmãs se emocionem com oque, e saibam oque é nosso, e nada mais nosso que o culto aos Orixás, que é a maior porta de entrada que temos para se conhecer vários elementos e costumes da nossa cultura que a diáspora africana tentou apagar.

Andressa: Como você se aproximou dos terreiros? E como se deu a sua necessidade de colocar isso nas músicas?

Omulu me deu um sacode, me jogou no hospital, e me disse: “Ou vai ou racha, ou tu assume tua missão ou tchau!” Rsrs! Foi assim, deixa essa resposta assim para galera que não sabe o qual é dar uma pesquisada! Rs! Atotô!

Andressa: Quais são suas influências no hip hop e de vida?

Eu gosto muito Xis, para mim ele é o maior de todos os tempos. BNegão, oKL Jay, Nega Gizza também são influências fortes! Hoje em dia aprendo muito com a DV Tribo, todos eles são fodas, sou muito fã! O Fela Kuti é fundamental para eu ser quem sou hoje e fazer música como faço, para além da música, Mohamad Ali, João Cândido e Mariana Crioula!

Andressa: A Banda Medulla foi um dos destaques do Superstar, da Globo e agora está participando de um clipe seu. De onde surgiu essa parceria? E como foi essa troca durante as gravações e filmagem?

Eu acho que o Medulla é muito mais que a banda que passou pelo Superstar, a participação deles ali foi uma merda mas foi importante. Nós somos amigos de muito tempo, porque eu como fã da banda promovi alguns shows deles na minha cidade e assim como o Sant, foi natural a gente colar de fazer som junto, a música pediu.

A gravação do clipe foi um dia lindo, aproximou mais a gente, e tinha a Luz Ribeiro também que mudou muito a forma que eu faço rap com as poesias dela, o Limão que também participa do clipe eu conheci no dia, e que moleque foda, ele é artista de rua e faz a arte dele com uma personalidade que eu amei.

Andressa: Diáspora”, “Pedagoginga” e agora “Condado dos Surdos” também promete ser um grito pro oprimido. Como você encara a responsabilidade de estar lançando “gritos” para os oprimidos e sendo o porta-voz das minorias?

Essa música não vai ter o alcance de nenhuma dessas duas que tu citou porque ela não traz uma causa de forma tão nítida, ela é mais subjetiva, mas talvez seja a que mais representa o “A Rotina do Pombo” em sua totalidade, mas ela fala muito do agora, desse tempo onde todo mundo tem opinião pronta e rápida mas pouco ouve, fala para quem não ta nem ai, eu tento questionar isso, ta falando porque? Sobre ser um porta voz, não sou um porta voz único, sou só mais um que Exú deu a benção de ser entendido com facilidade através da música, mas to bem acompanhado por irmãos gigantes nessa missão, salve Djonga, Rincon Sapiência, Nego E, Tassia Reis, Emitida, Conka e tantos outros que falam bem pelo nosso povo através do rap, amo todos vocês, axé!

Andressa: “A Rotina do Pombo” foi declarado como um dos álbuns do ano por sites especializados. Qual foi sua reação quando viu um trabalho seu chegar a esse reconhecimento?

Sinceramente? Acho que foi pouco, o disco é foda, deu um trampo do caralho rs!

Andressa: A “Rotina do Pombo” tá comemorando um ano em 2018 e em comemoração você está lançando surpresas para o público. Quais serão os próximos passos que você pode compartilhar com a gente?

Eu devo lançar muita coisa em 2018, mas isso não é só musica, não me vejo só como músico, me acompanha ai que tem várias coisas que dialogam e vão se amarrando para gente expandir esse universo e colocar os preto no protagonismo! No mais é axé para quem é de axé!

 

FICHA TÉCNICA do Clipe

Letra: Thiago Elniño

Voz: Thiago Elniño, Raony e Keops

Beat: Scooby

Piano: Martché

Produção e mixagem: Guga Valiante, Martché, Tolen

Masterização: Jorge Luiz Almeida

Roteiro, Imagens e direção: Monomito Films

Elenco: Thiago Elniño, Raony, Keops, Luz Ribeiro e Limão

Apoio: Fila Brasil

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